quinta-feira, 25 de novembro de 2010

PROMOÇÃO DE LIVROS


Os blogs Mania de Ler e Apaixonada por Romances se uniram para sortear Wake e Fade,primeiro e segundo livros da trilogia da autora Lisa McMann
Você está sozinho em seus sonhos??
Ou ela está lá??
Você pode ouvi-la??
Você pode vê-la??
Ela pode ajudar você se você deixar.
Mas quem irá ajudá-la?

Seus sonhos, não são seus sonhos.

•Sorteio começa dia 24/11/10 e irá até 23/12/10
Saiba como participar e concorrer aos dois livros acessando este site: http://maniadeler-rbk.blogspot.com/2010/11/promocao-dos-sonhos.html

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Desabafo de um monstro

Ei, cuidado. Não chegue tão perto. Eu não sou a pessoa que você pensa que sou. Por favor, não se engane comigo, te peço gentilmente isso. É para o seu bem.

Eu sou nocivo até para mim mesmo, imagina para você. Meu sorriso te encanta, mas minha pele pode te queimar se você se aproximar mais, por isso shiii....fique ai mesmo onde está. Tudo em mim serve para atrair, eu sei, mas antes que você possa se enfeitiçar eu me adianto.

Se eu tirar totalmente o meu disfarce você provavelmente ficaria louco com o choque e até mesmo uma brecha da minha mascara fariam os seus olhos ficarem arregalados de pavor. É, seu sei, já faz um tempo que descobri que sou um monstro. Eu evito me olhar no espelho e ver meu reflexo terrível, às vezes ele trinca um pouco, às vezes minha imagem se embaça pelas lágrimas em meus olhos. Eu as evito, pois as lágrimas são as portas para o meu demônio interior começar a me consumir. Uma fraqueza momentânea e por vezes inevitável, alguns grãos a mais na areia da balança do meu equilíbrio. O descontrole é a mão que empurra a porta para esse quarto escuro. A fresta da luz me incomoda, a luz é a verdade e a verdade é tudo o que um monstro odeia.

Então eu odeio a verdade? Hmmmm....ora, o que foi, porque essa cara de espanto e desprezo? Eu não disse que era nocivo? Eu já comecei com a verdade, um privilégio sobre mim, então não se espante mais. E sou a antítese da verdade, tudo em mim é ilusório, é como vidro rachado, lançando fragmentos diferentes de luz conforme a direção. Qual o verdadeiro? Talvez nenhum, talvez o mais bonito, o mais convincente, o mais forte, o mais discreto, o mais evidente, depende do momento, de quem olha. Mas eu sou assim, um milhão de facetas diferentes, de capas, de mascaras, de cascas, de peles de camaleão. Perdi a capacidade de ser verdadeiro porque a verdade me incomoda. Eu aprendi a gostar do lúdico, do impossível, do surreal, que me leva para longe da corriqueira vida verdadeira que todos vivem. Absorvi pequenos fragmentos do que as pessoas gostam para ser aquilo que elas querem e desejam. Você é fascinante. Não, só estou jogando com você, observando seus gestos e jeitos e me adaptando como um camaleão para ser aquilo que você quer ver. E para ter aquilo que eu quero.

Manipulador? É, sim, eu sou. O comportamento humano é por demais fascinante para eu ser indiferente. E se reagrupando pequenas peças eu puder mudar a ordem das coisas tornando-as mais interessantes? Você acha que vou perder se puder fazer? É meu passatempo.

Acho que já te choquei bastante, não é? Acha que tenho veneno no lugar de sangue correndo em minhas veias. Sou tão perverso que não consigo acreditar em mim, na minha falsa ingenuidade tão dissimulada e engraçada. Como eu posso ser tão convincente?? E ainda me perguntam como posso me divertir com isso! Por isso não se engane, eu sou uma mentira em ultimo grau e estou dizendo isso sinceramente a você, aproveite a oportunidade para ouvir, esse é um momento que não se repete.

Eu sei que vai chegar uma hora que nem eu vou saber o que sou, de tão fragmentado que me tornei. Não sei o que acontecerá nessa hora. Sim, eu fico com um pouco de medo, você acha que não? Acho que nesse momento irei ouvir o eco do vazio que se forma dentro de mim e finalmente sentir medo da solidão que hoje é uma escolha. Vai haver choro e ranger de dentes, mas principalmente calafrios na espinha. Se hoje eu não me importo tanto com os humanos, nessa hora eu estarei desesperado por companhia. Sim, meu futuro é terrível, é o que acontece com todos os monstros, estejam eles desmascarados ou fundidos com seus mascaras. Acho que meu caso será o último.

É cada vez mais difícil me ver sem a mascara, eu normalmente estou no quarto escuro, a fresta de luz iluminando o espelho no qual não quero me refletir. Lá está, você quer que eu descreva para ficar mais fácil? Lá está uma face dúbia, isso, nem mesmo o meu rosto verdadeiro é mais inteiro, tudo em mim esta trincado, multifacetado. Lá está a metade da minha face mais iluminada, justo a mais deformada. Parece a pele de um lagarto, cinza, rachada, áspera, o olho amarelo tem um brilho sinistro e soturno, os lábios num sorriso repuxado, marcado numa eterna careta sarcástica. Comecei a usar permanentemente uma mascara para esconder essa parte, eu sempre gostei de mascaras, elas começaram a ser uteis. O que aconteceu? Não vem ao caso, senão não estaria te descrevendo e sim te mostrando esse horror, você compreenderia tudo num piscar de olhos, mas não garanto que conseguisse tirar a imagem da sua cabeça. Meu bem, estou te protegendo aqui, não percebe? É só não ficar muito curioso, minha serenidade esta sob o controle de uma balança sensível ao toque do nariz de alguém.

A outra metade, pouco iluminada, é a mais inteira. Ela ainda não sofreu tanto, o olho preserva o castanho escuro, o lábio ainda é, mas já foi mais alegre, com mais luz. Agora alguns arranhões tingem as bochechas de vermelho e meu olhar é severo.

Bem, bem...é isso, não tem mais nada para ver aqui, satisfeito?

E minha solidão não tem nada a ver com muros que construí ao redor de mim. Sabe o que construí? Uma torre. Uma torre alta e difícil de escalar. Não há muros, então ao mesmo tempo em que estou recluso em minha paz qualquer um pode se aproximar, acenar para mim que estou numa janela lá no alto. Eu vou retribuir conforme meu humor. Às vezes fingindo que não vi, às vezes fuzilando com o olhar de "o que você quer aqui?!", às vezes talvez jogando uma corda para você subir. Mas é preciso me cativar. Eu sou um monstro sensível.

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